quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Do porquê

Já aviso que não entendo nada desse negócio de escrever. Sou mais de ler. Eu sou totalmente CDF. Posso passar dias seguidos apenas lendo, sem pensar. A minha leitura ocorre no automático. Escrever, não. Escrita é no câmbio manual. E eu gasto minutos preciosos compondo parágrafos sem valor algum. Este parágrafo inaugural, por exemplo, tirou de mim uns 17 minutos. Podia ter feito alguma coisa mais produtiva - ler, por exemplo -, ao invés de me esforçar em buscar palavras que serão imediatamente postas ao vento.

Procurar palavras é tão cansativo quanto inventar o que dizer. E em vista da inutilidade da tarefa, o condescendente leitor pode se perguntar: qual a razão de tanto esforço? É que, meu caro, se você é da minha laia, deve concordar: nunca a vida foi tão difícil para quem gosta de uma leiturinha. A internet, ao invés de ajudar, ao invés de tornar o mundo melhor a um click do mouse, piora a situação exponencialmente. Milhões de pessoas, que passariam o resto de suas vidas em feliz irrelevância, usam a internet para arremessar essa irrelevância em você. Que acredita em coisas como "entrar na internet". Isso é uma bobagem: é ela quem entra em você através das frestas mais insuspeitas, trazendo consigo o príon da desinformação. Que em pouco tempo faz do hospedeiro um vetor de disseminação das idéias mais equivocadas - idéias picotadas e recombinadas de outras pessoas, em outros contextos, com duvidosas intenções.

Não, não desista ainda! Eu não quero te empurrar a minha irrelevância não. Ela é minha e ninguém tasca. Mas o meu córtex tem necessidades urgentes. Há anos ele pena uma dieta rica em gordura e pobre em vitamina. Por isso, está prestes a regurgitar. E nesse momento crucial, ele, de tão débil, pode entrar de vez em modo vegetativo. Então eu pretendo, com a ajuda dos poucos neurônios ainda na ativa, salvar o meu pobre cérebro através da negação de todo artigo, blog, site, personalidade, livro e revista que ofendê-lo. Certo, talvez fosse melhor deixar de lê-los. Mas é como eu disse ali em cima: das formas mais inusitadas as tolices penetram, e me chamam de idiota. Eu estou quase acreditando, mas quero duvidar um pouquinho mais.