Já aviso que não entendo nada desse negócio de escrever. Sou mais de ler. Eu sou totalmente CDF. Posso passar dias seguidos apenas lendo, sem pensar. A minha leitura ocorre no automático. Escrever, não. Escrita é no câmbio manual. E eu gasto minutos preciosos compondo parágrafos sem valor algum. Este parágrafo inaugural, por exemplo, tirou de mim uns 17 minutos. Podia ter feito alguma coisa mais produtiva - ler, por exemplo -, ao invés de me esforçar em buscar palavras que serão imediatamente postas ao vento.
Procurar palavras é tão cansativo quanto inventar o que dizer. E em vista da inutilidade da tarefa, o condescendente leitor pode se perguntar: qual a razão de tanto esforço? É que, meu caro, se você é da minha laia, deve concordar: nunca a vida foi tão difícil para quem gosta de uma leiturinha. A internet, ao invés de ajudar, ao invés de tornar o mundo melhor a um click do mouse, piora a situação exponencialmente. Milhões de pessoas, que passariam o resto de suas vidas em feliz irrelevância, usam a internet para arremessar essa irrelevância em você. Que acredita em coisas como "entrar na internet". Isso é uma bobagem: é ela quem entra em você através das frestas mais insuspeitas, trazendo consigo o príon da desinformação. Que em pouco tempo faz do hospedeiro um vetor de disseminação das idéias mais equivocadas - idéias picotadas e recombinadas de outras pessoas, em outros contextos, com duvidosas intenções.
Não, não desista ainda! Eu não quero te empurrar a minha irrelevância não. Ela é minha e ninguém tasca. Mas o meu córtex tem necessidades urgentes. Há anos ele pena uma dieta rica em gordura e pobre em vitamina. Por isso, está prestes a regurgitar. E nesse momento crucial, ele, de tão débil, pode entrar de vez em modo vegetativo. Então eu pretendo, com a ajuda dos poucos neurônios ainda na ativa, salvar o meu pobre cérebro através da negação de todo artigo, blog, site, personalidade, livro e revista que ofendê-lo. Certo, talvez fosse melhor deixar de lê-los. Mas é como eu disse ali em cima: das formas mais inusitadas as tolices penetram, e me chamam de idiota. Eu estou quase acreditando, mas quero duvidar um pouquinho mais.
quarta-feira, 31 de janeiro de 2007
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